Extravasou do largo o jacarandá
Com as suas flores miúdas
ocupa agora toda a manhã
Jorge de Sousa Braga
(Luís Neves)
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Ode aos Plátanos
Queda de folhas com que a aragem soa
a luz do sol em sombras sobre os vossos troncos
de esverdinhado ouro secular
- ó plátanos dourados e nodosos! -
que sempre o mesmo Outono vos consola,
dormência igual, Inverno já tão próximo,
carícia vegetal de esquecer tudo,
folhas tombando, esguios ramos hirtos,
tão doloroso e fácil contemplar-vos!,
tão lentidão de sombras mais antigas
que a dança cadenciada de escutar-vos.
Troncos, rochedos, grenha de braçadas,
chiar de sonhos, solidão musgosa,
e as folhas caem por entre a limpidez
de um ar sonoro levemente azul.
Ligeiras, secas, já de sempre ouvidas,
as folhas correm pelo saibro húmido.
Nas noites frias, rígidas, metálicas,
de sono lúcido e profundo além da névoa,
com vossos ramos nus tão numerosos,
que nevoeiros calmos esfarrapareis!
- ó plátanos dourados e nodosos!...
Jorge de Sena
(Luís Neves)
a luz do sol em sombras sobre os vossos troncos
de esverdinhado ouro secular
- ó plátanos dourados e nodosos! -
que sempre o mesmo Outono vos consola,
dormência igual, Inverno já tão próximo,
carícia vegetal de esquecer tudo,
folhas tombando, esguios ramos hirtos,
tão doloroso e fácil contemplar-vos!,
tão lentidão de sombras mais antigas
que a dança cadenciada de escutar-vos.
Troncos, rochedos, grenha de braçadas,
chiar de sonhos, solidão musgosa,
e as folhas caem por entre a limpidez
de um ar sonoro levemente azul.
Ligeiras, secas, já de sempre ouvidas,
as folhas correm pelo saibro húmido.
Nas noites frias, rígidas, metálicas,
de sono lúcido e profundo além da névoa,
com vossos ramos nus tão numerosos,
que nevoeiros calmos esfarrapareis!
- ó plátanos dourados e nodosos!...
Jorge de Sena
(Luís Neves)
Palmeiras-das-canárias
Chegaram tarde à minha vida
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para os dobrar pela cintura.
Invulneráveis - assim nuas.
Eugénio de Andrade
(Luís Neves)
as palmeiras. Em Marraquexe vi uma
que Ulisses teria comparado
a Nausica, mas só
no jardim do Passeio Alegre
comecei a amá-las. São altas
como os marinheiros de Homero.
Diante do mar desafiam os ventos
vindos do norte e do sul,
do leste e do oeste,
para os dobrar pela cintura.
Invulneráveis - assim nuas.
Eugénio de Andrade
(Luís Neves)
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Rosas de Inverno
Corolas, que floristes
Ao sol do inverno, avaro,
Tão glácido e tão claro
Por estas manhãs tristes.
Gloriosa floração,
Surdida, por engano,
No agonizar do ano,
Tão fora da estação!
Sorrindo-vos amigas,
Nos ásperos caminhos,
Aos olhos dos velhinhos,
Às almas das mendigas!
Desse Natal de inválidos
Transmito-vos a benção,
Com que vos recompensam
Os seus sorrisos pálidos.
Camilo Pessanha
Camilo Pessanha
Mafalda Martins
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Árvores
São plátanos palmeiras castanheiros
jacarandás amendoeiras e até as
oliveiras que
quando a noite cai na infância formam uma
cortina escura na estrada frente à casa
árvores apagando os dias que a memória
avidamente esconde
no corpo do seu gémeo Penetra inultimente
na terra essa raiz do branco plátano
adolescente
e o campo do tempo onde as palmeiras eram
pilares do corpo nu símbolo de
si mesmo, à luz
do dia fixo, já se estende
na húmida manhã dos castanheiros
Esquecimento que tudo enfim possuis
e geras
a ofuscante luz igual à da
memória, do tempo como ela
filho, construtor da ausência,
em vão te invoco Tu
que mudas a roxa amendoeira
em brancas flores do jacarandá
entrega a minha vida às árvores
que foram na manhã e no crepúsculo
no meio-dia e na noite, palavra
clara que traz o dia em si fechado,
o campo do passado
Gastão Cruz (Crateras, 2000)
(Luís Neves)
jacarandás amendoeiras e até as
oliveiras que
quando a noite cai na infância formam uma
cortina escura na estrada frente à casa
árvores apagando os dias que a memória
avidamente esconde
no corpo do seu gémeo Penetra inultimente
na terra essa raiz do branco plátano
adolescente
e o campo do tempo onde as palmeiras eram
pilares do corpo nu símbolo de
si mesmo, à luz
do dia fixo, já se estende
na húmida manhã dos castanheiros
Esquecimento que tudo enfim possuis
e geras
a ofuscante luz igual à da
memória, do tempo como ela
filho, construtor da ausência,
em vão te invoco Tu
que mudas a roxa amendoeira
em brancas flores do jacarandá
entrega a minha vida às árvores
que foram na manhã e no crepúsculo
no meio-dia e na noite, palavra
clara que traz o dia em si fechado,
o campo do passado
Gastão Cruz (Crateras, 2000)
(Luís Neves)
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