quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Nem ver despontar rosas na alvorada

Nem ver despontar rosas na alvorada,
nem lírios um regato a debruar,
nem ramo de ave ou alaúde a soar,
nem gema no seu ouro bem cravada,

nem gargantinha a zéfiros passada,
nem o ranger da nave sobre o mar,
nem ninfa em águas ledas a bailar,
nem ver a tudo a primavera dada,

nem campo armado e em lanças eriçado,
nem antro em verde musgo atapetado,
nem cimos da floresta em suas tranças,

nem rocha onde o silêncio santo nasce,
me alegram mais que o prado onde pasce
este meu esperar sem esperanças.

Vasco Graça Moura in "Alguns Amores de Ronsard"

(Ana Cortinhas)

Nenhum comentário: