quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Ode aos Plátanos

Queda de folhas com que a aragem soa
a luz do sol em sombras sobre os vossos troncos
de esverdinhado ouro secular
- ó plátanos dourados e nodosos! -
que sempre o mesmo Outono vos consola,
dormência igual, Inverno já tão próximo,
carícia vegetal de esquecer tudo,
folhas tombando, esguios ramos hirtos,
tão doloroso e fácil contemplar-vos!,
tão lentidão de sombras mais antigas
que a dança cadenciada de escutar-vos.
Troncos, rochedos, grenha de braçadas,
chiar de sonhos, solidão musgosa,
e as folhas caem por entre a limpidez
de um ar sonoro levemente azul.
Ligeiras, secas, já de sempre ouvidas,
as folhas correm pelo saibro húmido.
Nas noites frias, rígidas, metálicas,
de sono lúcido e profundo além da névoa,
com vossos ramos nus tão numerosos,
que nevoeiros calmos esfarrapareis!
- ó plátanos dourados e nodosos!...

Jorge de Sena

(Luís Neves)

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