segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Alberto Caeiro


(fotografia - Pedro-Mil-Homens)

Gozo os Campos sem reparar para eles.
Perguntas-me por que os gozo.
Porque os gozo, respondo.
Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente
E ter uma noção do seu perfume nas nossas ideias mais apagadas.
Quando reparo, não gozo: vejo.
Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,
Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos –
À dureza fresca da terra cheirosa e irregular;
E alguma coisa dos ruídos indistintos das coisas a existir,
E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas
órbitas,
E só um resto de vida ouve.

ALBERTO CAEIRO – Poemas Inconjuntivos

( Contributo de Pedro Mil-Homens)

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